domingo, 21 de dezembro de 2008

Margem da sociedade? Que margem?

Quem está na margem da sociedade? Os miseráveis, drogados, criminosos, minorias raciais e religiosas? Será mesmo? Será que os “marginais” no sentido mais trabalhado da palavra, não somos nós mesmos? Sim, nós da classe média trabalhadora, que sustenta o país. Será que nós, tão certinhos, confortáveis em seus lares, vivendo uma vida de rotina, que tanto nos afasta de novos conhecimentos e experimentos, nós que somos tão “educados”, não estamos relegados a um segundo plano? Será que a minoria que vive tortuosamente sua vida, experimentando as boas e ruins sensações, os prazeres mundanos, as dores das tentativas frustradas, dos caminhos incertos e inseguros, será mesmo que eles estão à “margem” da “sociedade”? Dessa sociedade cheia de imperfeições, que tenta minimizá-las à base de doses discretas de ilusões e hipocrisias? Parece mesmo que vivemos num mundo incerto e sem razão de ser. Tudo é muito bonito, muito colorido, muita moda, muita beleza, mas que beleza que vivemos se há muita desigualdade e fechamos nossos olhos para elas? Os grandes nomes desse mundo pelo menos ao que parece foram pessoas diferentes, que não seguiram os “padrões”, mas que foram por caminhos desconhecidos, justamente por que é aí que estão as coisas novas, e não as recicladas, de apenas cara nova e mesmo conteúdo. A “margem” que por nós é assim chamada, situa-se no centro das situações, e nós é que margeamos essa massa, para lhe dar uma sustentação, uma consistência, fazendo com que ela esteja ali sempre, por mais esforços que façamos para que ela não exista, mas ela continua existindo e nos incomodando, não só pelos problemas que ela causa, mas mais pelo sentimento de inveja que dela sentimos, pela anarquia que ali parece reinar ser algo mais desejável do que a vida de limitações a que nos impomos pelo “bem-estar” coletivo. Os marginais que por nós são conhecidos estão ali no “buraco”, no desconhecido, que também é o lixo do mundo, nas sobras. O que fazer com as sobras? “Deixe que os catadores de lixo resolvam”, “Deixe jogado nos rios e mares, pois a natureza vai dar um jeito”, etc, etc e etc. Nós não queremos saber para onde vai nosso esgoto, nosso lixo, só sabemos que tem alguém que está lá para pegar. Mas não falo exatamente desses marginais que por falta de opção estão nessas situações miseráveis. Falo também daqueles que são mais conhecidos, como grande parte dos artistas de sucesso. Drogados, talvez para terem inspiração, desafiarem seus limites, eles estão lá, fizeram sucesso e a ele chegaram porque não ficaram nos mesmos padrões que nós, resolveram experimentar mesmo com toda a pressão dizendo que é errado, que faz mal, que isso e que aquilo. Saíram com seqüelas? Claro! Mas quem vive sem sentir o sabor dos perigos? Como podemos explicar o nosso desejo pelo que é ardente e perigoso? Porque filmes de terror nos fascinam? Porque gostamos de velocidade? Essas e outras questões reforçam a opinião de que ainda estamos na margem, e os outros é que estão experimentando a vida, com todos seus perigos e contradições. Mas afinal, é aí que as coisas mudam, não é na vida morna e regrada. A natureza precisa do movimento, não pode estagnar, por isso que também as lutas, guerras, batalhas, tanto coletivas quanto pessoais são o grande motor do ser humano. Não nascemos para ficar abaixo dos nossos limites, mas sim para superá-los e enfim evoluir. Que venha a evolução.

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